Nutrição personalizada na redução do risco e no tratamento precoce das doenças cardiovasculares

Pesquisa desenvolvida no PPG Nutrição e Saúde da UFG visa contribuir para a promoção da nutrição personalizada na redução do risco e no tratamento precoce das doenças cardiovasculares em adolescentes. Confira entrevista com pesquisadora na área.

A nutricionista Carla Cristina de Morais**, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, orientanda da professora doutora Cristiane Cominetti, desenvolve desde o início de 2013 a pesquisa intitulada “Influência dos polimorfismos A1298C E C677T no gene da metilenotetrahidrofolato redutase sobre o metabolismo da homocisteína e perfil lipídico de adolescentes”. Em entrevista, a mestranda explica detalhes sobre seu projeto de pesquisa para uma conduta individualizada na redução do risco e no tratamento precoce das doenças cardiovasculares.

 

De que trata sua pesquisa? Trata-se de um estudo transversal com adolescentes que apresentam fatores de risco para doenças cardiovasculares, entre eles o excesso de peso. O objetivo geral é relacionar dois polimorfismos (A1298C e C677T) no gene que codifica para a enzima 5,10-metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR) com as concentrações de vitaminas do complexo B (folato, B6, B12) e o perfil lipídico. Esta enzima é essencial no metabolismo da homocisteína, substância que é considerada um marcador de risco cardiovascular.      

O que já foi descoberto sobre o assunto?
É consensual na literatura científica que as concentrações elevadas de homocisteína no sangue estão envolvidas no processo de desenvolvimento eprogressão das doenças cardiovasculares. Apesar disso, os mecanismos ainda estão pouco esclarecidos.        O aumento nas concentrações de homocisteína pode ser atribuído à deficiências nas vitaminas do complexo B (folato, B6 e B12), que auxiliam nas reações do metabolismo desta substância; à problemas na excreção urinária do metabólito da homocisteína ou, ainda, à alterações genéticas conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único (SNP, pronuncia-se snip). Estes SNPs são pequenas alterações que os indivíduos podem apresentar em seus genes e que podem ou não promover alterações importantes no metabolismo dos nutrientes. No caso dos polimorfismos A1298C e C677T no gene que codifica para a enzima MTHFR, a alteração promovida resulta na formação de uma enzima com maior termolabilidade (ou seja, ela é mais sensível ao calor) e menor atividade. Assim, a homocisteína começa a se acumular no organismo. Por fim, a maior oferta (suplementação) de vitaminas do complexo B (sobretudo o folato) parece reduzir o impacto deste polimorfismo e tende a normalizar as concentrações de homocisteína no sangue.



Em que aspecto sua pesquisa poderá contribuir para o conhecimento científico?
Uma vez quenão existem estudos com este público alvo (adolescentes com excesso de peso) que visem relacionar o status de vitaminas, o perfil lipídico e as concentrações de homocisteína com a presença ou ausência destes polimorfismos no risco cardiovascular, esta é uma pesquisa inovadora e que pode estimular estudos maiores e com outros delineamentos, a fim de aumentar o conhecimento sobre o tema e de facilitar a promoção da nutrição personalizada desde as idades mais precoces.


Qual a possível contribuição de sua pesquisa para a vida das pessoas (sociedade)?
Uma vez que o profissional de saúde reconhece a presença destes polimorfismos e o papel destes nas doenças cardiovasculares, pode-se proceder com uma conduta individualizada na redução do risco e no tratamento precoce das doenças cardiovasculares.


A Genômica Nutricional é uma ciência do futuro? 
A Genômica Nutricional (Nutrigenética e Nutrigenômica), que estuda a interação entre alimentação e perfil genético é uma ciência que já vem sendo explorada há algumas décadas. Entretanto, nos últimos anos têm-se dado ênfase nas pesquisas nesta área, dada a aplicabilidade dos conhecimentos gerados no manejo nutricional. Assim, pode-se dizer que a Genômica Nutricional é uma ciência do presente e, também, do futuro. Com estudos que vem sendo realizados, a aplicabilidade desta ciência tem se tornado realidade a cada dia e será ainda maior num futuro muito próximo.

 

Qual mensagem você gostaria de deixar para aqueles profissionais da nutrição que na graduação tiveram pouco contato com o tema e agora têm receio de pesquisar sobre ele em um programa de pós-graduação, por exemplo? Cabe a nós, profissionais e estudantes da área da Nutrição, aprendermos um pouco mais destes temas relacionados à Genômica Nutricional e acompanharmos a evolução da nutrição personalizada, que já é uma realidade. Ao unir estudo e dedicação, é possível compreendermos este assunto e contribuirmos para novas descobertas.

 

** Mestranda em Nutrição e Saúde pela Universidade Federal de Goiás. Atualmente é coordenadora externa do projeto de extensão: “Rotulagem Nutricional: conheça o que você consome”. Já trabalhou com pesquisas na temática “Consumo alimentar e câncer de mama em mulheres” e na Ciência e Tecnologia de Alimentos “Caracterização Tecnológica e Sensorial de Macarrões Produzidos a Partir de Resíduos da Industrialização da Batata”, além de auxiliar em outros projetos de pesquisa. Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Goiás (2012).      Carla Morais