Por que a suplementação de ômega 3 não funciona para todos?

Nutricionista indica cautela ao ingerir suplementos alimentares, por exemplo o ômega-3. Segundo ela o que funciona de forma eficaz para alguns indivíduos pode ser muito prejudicial à outros. Confira matéria completa.

por Maira Chiquito Alves**


O ômega-3 é um ácido graxo poli-insaturado considerado essencial, uma vez que o nosso corpo não é capaz de produzi-lo. Numerosos estudos acerca do ômega-3 demonstraram o efeito benéfico deste ácido graxo na redução de fatores de risco cardiovascular.


O consumo de ômega-3 tem sido associado ao risco reduzido de ocorrência e recorrência do infarto agudo do miocárdio. Porém, já se sabe que existe uma heterogeneidade de respostas a uma mesma intervenção alimentar. Ou seja, os efeitos esperados da suplementação de forma individual não necessariamente coincidem com os resultados para a população geral e um dos principais fatores que influenciam esta resposta são as variações genéticas.


As variações genéticas mais estudadas na atualidade são os polimorfismos de nucleotídeo único (SNP, do inglês single nucleotide polymorphism), que configuram alterações pontuais em nucleotídeos de determinados genes, os quais podem ou não resultar em alterações nos aminoácidos codificados e, assim, na estrutura e funções das proteínas traduzidas. O polimorfismo no gene da apolipoproteína E (ApoE) é um dos mais reconhecidos no que diz respeito à influência da resposta dos lipídios sanguíneos à suplementação com ômega-3.


O porlimorfismo no gene da ApoE dá origem a 3 alelos (formas alternativas do mesmo gene) diferentes: ε2, ε3 e ε4. Alguns estudos demonstraram que portadores do alelo ε4 apresentaram um aumento das concentrações do colesterol LDL (popularmente conhecido como colesterol ruim), após a suplementação com ômega-3. O mesmo não foi oberservado com os indivíduos portadores dos outros alelos. Diante dessas variações ressalta-se a importância da cautela ao ingerir suplementos alimentares, dentre eles o ômega-3. O que funciona de forma eficaz para alguns indivíduos pode ser muito prejudicial à outros.


A ciência que estuda as interações entre alterações genéticas e respostas ao consumo de nutrientes e a manutenção da saúde ou surgimento de doenças  é a Nutrigenética.    Com as crescentes pesquisas nessa área do conhecimento, objetiva-se que, num futuro próximo, será possível prescrever dietas personalizadas, relacionadas com a constituição genética individual. Esta possibilidade é bastante relevante, pois pode ser aplicada tanto na redução do risco, quanto no tratamento de doenças intimamente relacionadas à alimentação.


Esta área de conhecimento é, sem dúvidas, muito interessante e está em constante crescimento. Além disso, leva-nos a refletir com bom senso sobre a “explosão” na prescrição e consumo de suplementos que existe atualmente no mercado nacional e mundial. Estes temas são estudados na Universidade Federal de Goiás no Programa de Pós Graduação em Nutrição e Saúde, pela professora Cristiane Cominetti e pelas mestrandas Maira Chiquito Alves e Carla Cristina de Morais.

Mais informações sobre nutrigenética:
http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/view/1332/915
http://www.unesp.br/aci/revista/ed15/quem-diria
http://www.karger.com/Article/FullText/350744

 

**Mestranda do PPG em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde desenvolve pesquisas na área de Nutrigenética. Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (2012). Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição Clínica, foi estagiária da Nestlé no ano de 2012 e participou de projetos de extensão pela Universidade Federal do Triangulo Mineiro. maira